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28/05/2020

A ignorância é, desde a origem do Brasil, um instrumento de poder

Por José de Souza Martins, sociólogo e Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP


Editorias: Artigos - URL Curta: jornal.usp.br/?p=324978
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A ignorância é, desde a origem do Brasil, um instrumento de poder

José de Souza Martins – Foto: Marcos Santos / USP Imagens



Os reiterados apelos de autoridades médicas para que a população permaneça em quarentena, durante a epidemia de covid-19, têm tido consequências aquém do esperado e, principalmente, do necessário. Há diversos fatores sociais e culturais por trás da imprudência coletiva. A começar de que milhões de brasileiros não têm habitação ou a habitação adequada ao isolamento.



Além do que, esses apelos se baseiam no pressuposto equivocado de que toda a população regula seu comportamento costumeiro, em questões de saúde, pelas mesmas concepções dos médicos e dos cientistas.
Equivocado porque, historicamente, o brasileiro é culturalmente duplo, nas concepções e na língua, uma das consequências das duas escravidões que fizeram o Brasil que conhecemos, a indígena e a negra, além da influência do branco retrógrado. Somos um país atrasado. O que faz do conhecimento científico um conhecimento paralelo ao popular, e com ele em disputa.

No geral, médicos intuem isso. Problema que se abrandaria se nos currículos das faculdades de medicina fosse incluída a antropologia. Uma ponte sobre o abismo que separa e contrapõe as duas culturas.
Tenho observado, em minhas pesquisas, muitos casos, embora fragmentários, no Brasil inteiro, que evidenciam o quanto amplos setores de população estão muito longe das recomendações da cultura médica. E do que seria próprio de uma sociedade cujas normas de saúde fossem reguladas pela racionalidade da própria ciência.

Os muitos casos esparsos que observei deixam claro que o saber popular sobre doença e saúde, mesmo nas grandes cidades, está numa relação de conflito e antagonismo como o saber do médico. O próprio presidente da República, por ignorância e oportunismo explícitos, expressa diretamente esse conflito, ao agir para contestar a medicina.

Num cenário desses, é difícil definir normas de saúde pública, especialmente em momentos de emergência e de urgência. É de limitada eficácia, numa disputa desse tipo, a recomendação de normas da noite para o dia.

Esta é uma interpretação impressionista desse desencontro. Mas do peculiar impressionismo de que se vale todo pesquisador e cientista para definir o primeiro e provisório quadro de sua observação científica sobre determinado problema ou questão.

Seu senso comum é diverso do senso comum popular. É, antes, uma sistematização de conhecimento científico, que lhe permite ver, na urgência de situações inesperadas, o que o conhecimento popular não permite ver senão impropriamente no plano mágico e, eventualmente, religioso.

O problema começa com o fato de que há no Brasil, historicamente, uma ampla ignorância induzida, que se tornou o fundamento de uma cultura paralela de permanente disputa entre juízos de realidade. A ignorância é, desde a origem do Brasil, um instrumento de poder.

É esse o cenário que define os problemas de saúde pública, em situação de emergência, como agora. Os serviços de saúde chegam à massa da população, seja dos pobres, seja da classe média, precariamente. É mais fácil fazer uma consulta médica do que fazer os exames recomendados pelo médico, que podem demorar meses. As coisas se complicam se for necessária uma internação, uma cirurgia.

Com isso, o médico se torna coadjuvante das improvisações e soluções da medicina popular, do curandeirismo, dos benzimentos. As pessoas ficam sabendo que suas dores e incômodos têm nome, nome de doenças. Mas a solução acaba sendo procurada fora do âmbito médico. Não é casual que aqui a medicina científica seja de fato apenas a segunda instância da medicina popular, da automedicação, das campanhas de liquidação de remédios nas farmácias.

Um dos aspectos mais problemáticos desse desencontro é a descrença no saber médico. Sou usuário de hospital público e gosto de acompanhar as conversas de sala de espera. As pessoas trocam informações sobre as queixas que estão levando ao médico. Os outros pacientes opinam, fazem diagnósticos, até dizem que exames o queixoso recomende ao médico para que apenas faça a requisição.

Quando falha o convencimento alternativo do leigo, também paciente, entra o diagnóstico religioso. A conversa, então, se torna proselitismo em favor do grande médico de todas as enfermidades. Já presenciei na espera do ambulatório do Hospital Universitário da USP entre três evangélicos, vinculados a três diferentes igrejas fundamentalistas, por eles mesmos identificadas, por que um impugnava a visão religiosa do outro em nome da sua.

Por trás da resistência à quarentena há um conjunto extenso de insuficiências históricas, sem solução numa situação de emergência, como esta, que é também a de insuficiência do governo.

(Artigo publicado originalmente no Valor Econômico, edição de 22/05/2020)


Veja algumas obras de José de Souza Martins:


"A Chegada do Estranho"

"A aparição do demônio na fábrica: Origens Sociais do eu Dividido no Subúrbio"

11/05/2020

Lançado canal de atendimento virtual para pessoas com suspeita de sintomas da Covid-19


Bot Vitória é resultado de parceria entre UFG, Secretaria de Desenvolvimento e Inovação (Sedi) e Secretaria Estadual Saúde (SES)



O Governo de Goiás, por meio das secretarias de Desenvolvimento e Inovação (Sedi) e de Saúde (SES), em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), apresentou uma ferramenta tecnológica para auxiliar no atendimento a pacientes com suspeita de Covid-19. Trata-se do Bot Vitória, que é um robô, desenvolvido com a aplicação de inteligência artificial, que pode ser acessado pelo site www.saude.go.gov.br/coronavírus

O chatbot, também chamado de atendente virtual, é uma ferramenta de telemedicina e telemonitoramento que tira dúvidas e faz uma triagem de pessoas com suspeita de estarem contaminadas com o novo coronavírus. A ferramenta é uma parceria entre a subsecretaria de Tecnologia da Informação da Sedi com a Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio do Centro de Excelência em Inteligência Artificial. Para o desenvolvimento da plataforma, a equipe da subsecretaria de Tecnologia da Informação (STI) utilizou uma ferramenta de chat brasileira e gratuita, que foi instalada, configurada e customizada no Data Center do Estado. 

Para acessar o Bot Vitória, basta visitar o site www.saude.go.gov.br/coronavirus e, no canto inferior direito da tela, buscar pelo ícone do chatbot. Um atendente virtual fará uma teletriagem utilizando inteligência artificial e, caso seja identificada a presença de sintomas da Covid-19, a pessoa será direcionada para um atendente de nível 1. 

Nessa etapa, será feita a escuta qualificada com orientações para o cidadão em caso de dúvidas. Se necessário, a pessoa será encaminhada para os demais níveis de atendimentos para consulta de enfermagem ou médica, que também serão realizados online. A telemedicina, como é chamado o atendimento virtual realizado por um profissional da saúde, foi desenvolvido baseado em protocolos desenvolvidos com a Faculdade de Medicina. 

O Bot Vitória integra a Central de Orientações (CORI), que funciona diariamente das 7h às 19h. São 85 profissionais como médicos, psicólogos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, assistentes sociais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, entre outros, que prestam atendimento à população por meio do número 3201-9300 ou pelo chatbot que está disponível no hotsite www.saude.go.gov.br/coronavirus.

Telemedicina

No contexto emergencial em saúde provocado pelo novo coronavírus, o professor da Faculdade de Medicina da UFG, Alexandre Taleb reforça a importância da Telemedicina. “A pandemia acabou evidenciando como a telemedicina pode ter um papel fundamental no cuidado dos pacientes, especialmente numa época como essa, em que o isolamento social é uma das medidas preventivas. Sempre acreditei na Telemedicina e vejo com muito bons olhos a possibilidade de ela agora estar sendo colocada mais à disposição da população”, concluiu.







Fonte: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Inovação (SeDI) e Reitoria Digital/UFG



04/05/2020

Curso da USP pela internet vai ensinar ciência para garotas do ensino básico


Foto: Marcos Santos/USP Imagens











Curso da USP pela internet vai ensinar ciência para garotas do ensino básico

Durante cinco semanas, cientistas serão "fadas madrinhas" no projeto Astrominas e mostrarão para meninas que é possível seguir carreira nas áreas científicas; inscrições podem ser feitas de 4 a 20 de maio


Por Thais Helena Santos


Que tal conhecer e se interessar pelo universo da ciência, além de imaginar um futuro como astrônoma, neurocientista, engenheira, física, bióloga ou outras profissões interessantes? E tudo isso com a ajuda de “fadas madrinhas”?

Isso é possível com o Astrominas, projeto do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP que abre nesta segunda-feira inscrições para meninas, estudantes do 9o. ano de ensino fundamental e 1o. e 2o. anos do ensino médio, participarem de atividades durante cinco semanas, com início dia 30 de maio (veja a programação abaixo).


Respeitando a quarentena e as recomendações da área de saúde, as atividades serão totalmente pela internet, com aulas, experimentos, murais, palestras, conversas com cientistas convidadas e orientação das chamadas “fadas madrinhas”, que vão compartilhar suas trajetórias e mostrar que as ciências, especialmente as ciências naturais e exatas, são áreas possíveis de serem exploradas por todas as meninas. Astronomia, Matemática, Física, Geociência e Astrobiologia são alguns dos temas abordados. A seleção será feita por sorteio, que levará em consideração cotas PPI (para pretos, pardos e indígenas). Após o curso, todas receberão um certificado.


O Astrominas é composto por cientistas da USP em diferentes momentos acadêmicos, de alunas de graduação a doutoras e professoras da Universidade. É coordenado por Elysandra Figueredo Cypriano, professora do IAG, e tem na comissão organizadora Lilian Maria Soja, mestranda do IAG, e as alunas Daniele Honorato, do IAG, Ivanice Avolio Morgado e Marina Izabela, ambas do Instituto de Física (IF) da USP. Há várias voluntárias e pesquisadoras que também participam do projeto.

Elysandra Figueredo Cypriano, coordenadora do Projeto Astrominas, e Lilian Maria Soja, da comissão organizadora - Foto: Divulgação Projeto Astrominas

A realização da primeira edição do Astrominas será totalmente on-line, podendo alcançar diversas regiões do país e um grande número de meninas do ensino básico
Superando desigualdades




Segundo as organizadoras, além do caráter educativo, o Astrominas foi criado para superar uma desigualdade de gênereo na área de ciências. “A ciência apresentada nas escolas é quase que exclusivamente representada por nomes masculinos. Além disso, todo o processo histórico contribuiu para que os nomes femininos fossem invisibilizados. Sendo assim, é fundamental construir a imagem da ciência de uma forma mais feminina”, explica Daniele Honorato.


Elas também destacam o pouco incentivo às mulheres na área de ciências exatas, “isso gera dificuldades na escolha do curso, pela menina se achar incapaz ou com muita dificuldade dentro das exatas, apesar do interesse. Mas quando se é feita a escolha, o problema permanece, devido a uma sensação de não pertencimento dentro da carreira escolhida”, destaca Ivanice Morgado. “Por isso o evento é tão importante, há envolvimento de meninas de diversas faixas etárias”, explica.

Marina Izabela também enfatiza que a ideia de um evento inteiramente feminino desconstrói a ideia errada de que as meninas não fazem parte do meio científico. “Ainda há uma grande disparidade entre homens e mulheres nas áreas das ciências exatas. Mesmo que muitas grandes descobertas nessas carreiras tenham sido feitas por mulheres, não conseguimos nomear mais de cinco cientistas mulheres de cabeça!”, conta Izabela, destacando que isso ocorre por omissão dos nomes das mulheres ou simplesmente pelos créditos serem direcionados aos participantes masculinos da pesquisa.



Daniele Honorato (acima), Marina Izabela (à esquerda) e Ivanice Morgado (à direita), organizadoras e monitoras do evento - Foto: Divulgação Projeto Astrominas



Astrominas - Empoderando meninas através da ciência!

Evento que ensina ciências para meninas do ensino básico tem inscrições de 4 a 20 de maio. Clique nos links abaixo para acessar:

Informações: https://sites.usp.br/astrominas

Inscrições: clique aqui

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USP vai testar milhares de fármacos para tratar o novo coronavírus

Foto: Marcos Santos/USP Imagens Em parceria com farmacêuticas, Instituto de Ciências Biomédicas testa medicamentos já existentes,...